* Edmundo Galiza Matos Junior, intervenção em representação de África na abertura do Primeiro Festival da Juventude Asia-Africa, Beijing
Distintos dirigentes da República Popular da China
Caros jovens asiáticos, africanos e nossos hospedeiros da China
Minhas senhoras e meus senhores
1. Cabe-nos a honra de proceder a um discurso em representação de todos os jovens africanos, convidados pelo nosso país amigo e irmão, a China e fazemos com bastante agrado, mas sobretudo com muita esperança de aqui renovarmos os nossos laços de irmandade;
2. Começo por fazer um enquadramento histórico, político e social do nosso maravilhoso continente, África;
3. O Norte da África é a região mais antiga do mundo. A civilização egípcia floresceu e inter-relacionou-se com as demais áreas culturais do mundo mediterrâneo;
4. Durante o século quinze, exploradores europeus de Portugal, da Espanha, da França, da Inglaterra e dos Países Baixos chegaram a África e iniciaram o comércio de escravos;
5. Os nossos antepassados foram usados para desenvolver o ocidente como mão-de-obra barata, como escravos. As primeiras viagens científicas a Africa realizadas por Charles-Jacques Poncet na Abissínia, em 1700; James Bruce em 1770, procurando o local onde nasce o Nilo; Friedrich Konrad Hornermann viajando no deserto da Líbia num camelo, em 1798; Henry Morton Stanley e David Livingstone na bacia do Congo, em 1879 abriram as portas para a divisão de um continente que destruiu e modificou as estruturas sociais, económicas, políticas e religiosas da maioria do território da África negra;
6. As colónias que proclamaram sua independência, processo que iniciou após a Segunda Guerra Mundial e se concluiu principalmente de 1960 até 1975 enfrentaram problemas graves de integração nacional, resultantes das fronteiras herdadas do sistema colonial;
7. África regista níveis de pobreza, entretanto tem um rápido crescimento da população superior aos níveis de comida que deve produzir;
8. Somos um continente de 54 países que ganharam as suas independências políticas, mas ainda não estamos totalmente independentes sob ponto de vista económico porque temos 21 dos 31 países mais pobres do mundo que enfrentam a subnutrição, analfabetismo, baixa qualidade de vida;
9. Porém, somos ricos e as nossas riquezas durante longos anos, serviram os colonos e colonialistas e em alguns casos regimes racistas, como foi o caso do Apartheid;
10. África é o continente que vive perseguido pelo estigma do subdesenvolvimento. É visto como a região do mundo vítima da guerra, dos genocídios, das epidemias, que não obstante as ajudas e parcerias com o ocidente, não foi bem-sucedida, persistindo no ciclo da pobreza e do subdesenvolvimento. Para África, a China surge como uma alternativa à relação com os doadores tradicionais e a possibilidade de optar por outra fonte de ajuda externa;
11. África é rica em termos de diversidade étnica, cultural, social e política
12. Em África emergiram grandes pensadores deste mundo, desde Nelson Mandela, Agostinho Neto, Samora Machel, Kwame Nkrumah, Jomo Kenyata, Ahmed Sekou, Haile Selassie, Eduardo Mondlane, Ahmed Bem Bena, Oliver Thambo, Josiah Tongogara, Mwalimumu Julius Nyerere, Leopold Senghor entre tantos outros que o espaço não permite citar. A todos estes e aos demais anónimos que lutaram pela nossa áfrica livre, peco o vosso apoio;
13. Aos líderes chineses que mesmo estando longe, contribuíram para a libertação de áfrica, como são os casos de Mao Tse Tung, Zhou En Lai e Deng Xiao Ping, aproveitamos a oportunidade para deixar o nosso muito obrigado;
14. A nossa esperança, como africanos, é ver o nosso continente a prosperar dia-após dia porque acreditamos numa cooperação baseada na amizade e respeito entre os Povos, com vantagens mútuas;
15. Acreditamos que o reforço das relações entre China e África continuarão a progredir porque o capital e a tecnologia que a China tem para investir necessitam de matérias-primas para sustentar a sua indústria, alimentar a sua população, continuar a aumentar os volumes de exportação e afirmar-se nos mercados internacionais.
16. África está em franco crescimento. Temos matérias-primas e precisamos de infraestruturas e de tecnologia que a China possui para as explorar o que implica a continuidade e aumento de investimentos;
17. No contexto do meu país, Moçambique, por exemplo, os presidentes Xi Jinping e Filipe Nyusi assinaram acordos importantes de parceria estratégica global, unindo assim esforços para o desenvolvimento da pérola do Indico, como nós chamamos Moçambique;
18. Recentemente passei por Luanda e vi a grande cidade de Quilamba, fruto de esforços do Governo chinês e de 10 mil trabalhadores chineses que dão ao povo angolano de viver em habitação de qualidade. Acções desta natureza, envolvendo empresas de construção chinesas estão espalhadas por todo o continente africano;
19. O envolvimento comercial e empresarial chinês nos sectores da construção civil, da agricultura, da extracção de recursos ajudam os nossos povos a contrabalançar a forte dependência dos doadores tradicionais pois traduzem-se no cancelamento da dívida, na oferta de donativos e concessão de empréstimos preferenciais, na capacitação técnica e no fornecimento de construção de baixo custo. O volume da ajuda e a expansão do comércio e investimentos chineses fazem com que as nossas economias cresçam e resulte no bem-estar dos nossos povos, particularmente dos jovens.
20. Os objectivos contidos na nova parceria estratégica da China que estão na “Política da China para África” e tornados públicos na Cimeira de Pequim do Fórum para a Cooperação China – África de 2006, revelam uma visão pragmática de longo prazo com uma maior dimensão do que foi a actuação das antigas colonias que exploraram o nosso continente. Tais Objectivos visam a aquisição de energia e matérias-primas para sustentar a economia chinesa, cultivar o apoio político, consolidar o papel da China nas organizações internacionais.
21. Como jovens, entendemos ser importante o aumento da interacção política e económica com o continente africano e solicitamos aos nossos dirigentes um maior dinamismo nas relações que resultem em políticas concretas e planos de acção para uma melhor cooperação sino-africana.
22. Nós jovens africanos acreditamos na parceria estratégica com a China, para deixarmos de ser exportadores de matérias-primas e passarmos a ser exportadores de produtos acabados;
23. Nós, jovens africanos, acreditamos num modelo de parcerias comerciais e empresariais que promovam relações privado-privado, que não dependam sempre de avais de Governos e Estados;
24. Nós jovens africanos acreditamos que o investimento Chinês em África – sempre que possível em parcerias justas com os locais -, na produção e transformação de recursos naturais, para exportação de produto (semi) acabado para o mercado Chinês e global resultam em postos de trabalho de qualidade sobretudo para os jovens africanos. Em nosso entender, esta é uma das formas mais concretas de a China promover o desenvolvimento sustentável dos jovens africanos.
25. Como jovens, manifestamos a nossa satisfação pelo investimento da China em infraestruturas públicas e a expansão de bancos comerciais por África;
26. Esta parceria promove a desejada concorrência no sector financeiro, alavanca o investimento privado Chinês em África e à cooperação comercial com a China inclui a facilitação da importação de tecnologias e equipamentos Chineses;
27. Nós jovens africanos acreditamos que a cooperação no campo da cultura, arte e desporto tem um grande impacto na maior aproximação entre os povos. A cultura e arte Chinesas são objecto de grande e secular admiração em África. A massificação de Escolas de Artes Marciais, por exemplo é uma forma de incrementar a cooperação e amizade entre os nossos povos;
28. Ao cooperar com África, entendemos que a China deve apostar em modelos transparentes e inclusivos, onde as oportunidades criadas por essa cooperação sejam divulgadas para todos, sem nenhum tipo de discriminação nem favorecimentos e beneficie sobretudo aos jovens africanos.
29. Para terminar, permitam-me em nome de todos os jovens africanos, deixar uma palavra de apreço ao Camarada Presidente Xi Jinping, aos dirigentes do Partido Comunista Chines, aos dirigentes da Juventude do Partido, aos jovens da China em particular e a todos os nossos irmãos e irmãos da China.
30. Bem hajam e muito obrigado.
Nota: Edmundo Galiza Matos Junior é Deputado da Assembleia da República de Moçambique, Porta-voz da Bancada parlamentar da FRELIMO e Presidente da Liga Parlamentar de Amizade Moçambique-China