Camarada, companheiro, combatente,
É rica e bela a herança que deixaste:
Homens e mulheres irmanados numa causa justa,
A terra livre que as nossas mãos fecundam,
A lenda viva dos libertadores da pátria.
Tudo isto nos legaste, fruto das longas marchas,
Da unidade com o povo, da tua arte
e saber profundos.
Ah, e a Mensagem: mensagem de luta e paz,
De entrega total, de justiça, de igualdade,
De denúncia e combate aos que se vendem.
Porque cresceste no fogo das batalhas,
Alheio às intrigas dos palácios,
A tua alma é livre. Reside aqui
A tua grande força.
É certo: já não és a força justiceira
Que fazia mover a terra
E tremer o inimigo.
Mas és ainda a esperança,
A inspiração e a bandeira.
Camarada, no novo tempo que emerge
Em que os abusos são regra, e os outros
Se conformam ou pactuam,
Tens tu de novo que erguer-te
E prosseguir a missão.
E armado da tua crença,
Do eterno amor pela pátria,
Ao apelo do povo dizeres “Basta”! e destroncares
Aqueles que hoje, agora, impunemente
São os novos inimigos:
Os chefes sem rosto que traficam o poder,
Os mandantes do crime que planeiam na penumbra,
Os donos da droga que viciam os teus filhos,
Os chefes venais cobradores de comissões
(“quinze por cento p’ra mim, ou não assino”),
Os que te instam a apertar o cinto
quando os seus ventres engordam,
Os juízes corruptos que ilibam a quem mais paga,
Os que vendem a pátria
A quem mais paga.
Camarada, no novo tempo sem lei
Tens tu de novo que erguer-te
E prosseguir a missão.
Jorge Rebelo